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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Brasil 0 x 1 Peru - Copa América 2016


De novo, o Brasil começa bem mas logo se torna previsível e cai muito em qualidade. Dunga não consegue criar alternativas, falhando na estratégia e na execução. Peru acaba fazendo gol ilegal, mas o importante é que o Brasil termina o torneio tendo feito gol apenas no Haiti.



Escalações

Dunga começou o jogo com 3 substituições em relação ao time que venceu o Haiti. Casemiro, suspenso, Jonas e Marquinhos saíram para a entrada de Gabigol, Lucas Lima e Miranda, que voltava de lesão. Isso significou uma mudança na estrutura tática do time. A dupla Renato Augusto e Elias se tornaram volantes responsáveis pela saída de bola, com Lucas Lima como meia armador. Com isso, agradou a alguns críticos escalando a dupla do Santos  - especialmente o comentarista Casagrande da Globo, que foi incapaz de articular uma crítica ao time durante a transmissão, incrivelmente satisfeito apenas pela presença dos dois.

O técnico argentino Ricardo Gareca - que treinou o Palmeiras em 2014 - fez também três mudanças em relação ao time que empatou com o Equador após estar vencendo por 2 dois gols de diferença. Corvo entrou na lateral-direita, Polo na ponta direita e Balbin como primeiro volante. O time vinha de uma vitória magra sobre o Haiti e um empate com o Equador, em que chegou a estar dois gols na frente. 

Matemática

Em uma situação curiosa, o Equador havia garantido uma vaga nas quartas-de-final. O curioso é que essa vaga seria com certeza o segundo lugar. Isso significava que o perdedor de Brasil e Peru seria eliminado da competição, enquanto o vencedor assumiria o primeiro lugar do grupo. O empate colocaria o Brasil em primeiro, eliminando o Peru. 

Brasil forte pela direita

O primeiro tempo, a exemplo do primeiro jogo contra o Equador, foi animador para o Brasil. A presença de Lucas Lima e Gabriel geraram um entusiasmo natural no torcedor brasileiro. Gabriel, em especial, teve boas chances para abrir o placar, mostrando rapidez na hora de concluir, mas não tanta precisão. Lucas Lima é um camisa 10 que se movimenta muito, pouco ocupando a faixa central do campo. Ele é um ponta-armador, um estilo de jogo que também pode ser observado em Mesut Ozil, da Alemanha e às vezes, Neymar.

Brasil forte pela direita: Gabigol, Wilian, Lucas Lima, Elias e Daniel Alves caindo por aquele lado. Balbin permanece central, sem ter quem marcar. Renato Augusto recua pela esquerda para ajudar a saída de bola.

Um movimento importante da Seleção foi responsável por criar muitas chances pelo lado direito. Willian, ao contrário de outros jogos, não permaneceu aberto pela direita. Ao invés disso, muitas vezes veio para o meio. Isso ocorreu porque Gabriel gosta muito de receber a bola na direita. Somado ao apoio de Daniel Alves e eventualmente de Lucas Lima, o Brasil era muito forte por aquele lado. O Equador por outro lado, se defendia apenas com o lateral-esquerdo Trauco e Flores por ali. Foi por ali que nasceram as melhores oportunidades do Brasil no primeiro tempo.

Renato Augusto

Com a ausência de Casemiro, Renato Augusto e Elias se tornaram volantes de fato. Mais importante do que marcar, isso significa que ambos tinham a responsabilidade de iniciar a saída de bola. Renato Augusto recuava pela esquerda, quase como um zagueiro pela esquerda, permitindo Felipe Luís avançar. Quando o ex-corintiano abria o suficiente, ele era marcado por Polo. O passe seguinte geralmente tinha dois endereços: Ou com o lateral-esquerdo livre mais a frente, ou um passe longo na ponta-direita, direto para William. Por razões já explicadas, o Peru não conseguia acompanhar o Brasil por aquele lado. Duas vezes esse lançamento acabou levando muito perigo ao gol adversário. Felipe Luís também aproveitou o espaço bem, criando algumas boas jogadas pela esquerda, aproveitando-se que os peruanos concentravam mais a marcação em Coutinho.

Entretanto, é importante ressaltar uma ineficiência na saída de bola brasileira. Muitas vezes, Renato Augusto e Elias se posicionavam diretamente a frente dos zagueiros, com os 10 jogadores de linha peruanos a frente deles. Isso significava que, para os seis jogadores brasileiros mais avançados, existiam 10 jogadores peruanos. Com isso o time brasileiro ficava dividido. Muitas vezes Lucas Lima também voltava para pegar a bola, logo recorrendo a um lançamento longo. Esse movimento é muito ineficiente. É preciso que os zagueiros façam essa saída de bola, sem precisar que os volantes voltem só para pegar a bola dos seus pés. Infelizmente, os dois zagueiros mais técnicos que nós temos, David Luiz e Thiago Silva, estão barrados por Dunga. 

Quatro jogadores do Brasil na saída de bola. Nesse momento, não há nada que Elias possa fazer nessa posição que não pode ser feito pelos dois zagueiros. É melhor ser opção de passe na frente do que recuar para buscar a bola dos pés dos zagueiros. 



Peru corrige o problema na sua esquerda, e equilibra o jogo.

No intervalo, Gareca tirou o primeiro-volante Balbin e colocou Yotun como volante. Yotun joga mais como lateral-esquerdo. Inicialmente, Balbin teria a responsabilidade de marcar Lucas Lima. Mas como o camisa 10 do Santos não permanece na área central, ele perdeu a função. Ao invés disso, Gareca preferiu um jogador capaz de cobrir bem o lado esquerdo, ajudando o lateral, bem como com a energia necessária para pressionar mais a frente, que seria necessário pois o Peru precisava fazer um gol para permanecer no torneio. Logo aos 2 minutos do segundo tempo, Yotun roubou uma bola no ataque, ao pegar Lucas Lima de costas e desprevenido, o que redundou em uma falta perigosa para o time peruano. Foi um sinal da mudança de postura peruana, e uma mostra do que era possível fazer contra um Brasil mediano.

Com o passar do tempo no primeiro tempo, o Brasil se perdeu na sua estratégia. Não soube esconder a posse de bola, escondendo-a do Peru e minimizando o tempo do adversário com a bola. Tampouco era eficaz na tentativa de continuar jogando um futebol direto, com o Peru facilmente neutralizando as armas brasileiras, e obtendo o contra-ataque, que é um problema para o Brasil desde o jogo contra o Equador. Um plano geralmente tem duas partes: estratégia e execução. É possível dizer que o Brasil escolheu a estratégia errada, e não a executava bem.

Yotun entrou e ajudou a fechar o lado esquerdo do Peru, que tinha sido a melhor rota de ataque do Brasil no primeiro tempo. Ruidiaz entrou na frente e possibilitou Guerrero sair mais para armar.
Dunga tirou Gabriel, que pouco produziu no segundo tempo, por Hulk. Possivelmente buscava mais presença de área contra um adversário que ia se fechar. Enquanto isso, Gareca tirou Flores e colocou Ruidiaz. Cueva passou a jogar aberto pela esquerda, e Ruidiaz fez dupla de ataque com Guerrero. Isso permitiu Guerrero participar mais do jogo, permanecendo com uma referência na área. Aos 35 do segundo tempo, Guerrero saiu da área e tabelou com Polo, que cruzou para Ruidiaz completar - com a mão - para o gol. Apesar da falha gritante de arbitragem, o posicionamento das peças premiou as decisões do técnico do Peru.

Dunga não muda

Com 10 minutos para o fim do jogo mais 6 de acréscimo, Dunga viu a partida da beira-do-campo sem fazer nenhuma alteração ou dar nenhuma instrução específica. Depois do jogo, ele diria que não mudou "porque o time estava encaixado". O que também pode ser interpretado como: "Eu não sabia como melhorar o time". O abafa desordenado dos bons jogadores do Brasil contra o organizado Peru acabou não dando resultado, apesar de uma chance perdida por Elias, que se aventurou mais ao ataque. 

Conclusão

Não adianta insistir no gol ilegal. O fato é que o Brasil termina o torneio com algumas estatísticas pouco invejáveis: Só fez gol no Haiti; não venceu seus companheiros de confederação, o que é um mau presságio para as Eliminatórias; e também foi o único time que sofreu um gol do Haiti. É bom lembrar também que contra o Equador levou um gol que acabou sendo mal-anulado, para a sorte brasileira. Parece que tudo que vai volta, não é mesmo?

Dunga insistirá em dizer que o time começou bem e poderia ter aberto o placar. É verdade. Mas, não tendo aberto o placar, o técnico brasileiro foi incapaz de se adaptar e entender as circunstâncias que mudavam a cada instante. Colocou Hulk em campo pela presença de área quando o adversário precisava sair para o ataque, e não ia ficar se defendendo. Deveria ter fortalecido o meio-campo, para controlar melhor o jogo. Eu gostaria da entrada de Ganso, mas entenderia se ele tivesse colocado Wallace como primeiro-volante, retomando a estrutura dos primeiros jogos. 

Na Copa de 2010, Dunga priorizou levar jogadores em quem confiava, que tinham espírito de equipe e que tinha participado de momentos importantes (vide Kléberson). Quando precisou mudar um resultado adverso, olhou para o banco e não encontrou ninguém capaz, ao mesmo tempo em que Ganso e Neymar encantavam o país. Agora, Dunga optou por convocar jovens jogadores, pensando em prepará-los para as Olímpiadas. O banco de 2016 era mais qualificado que em 2010, mas ainda assim Dunga não confiou nos jogadores que ele mesmo escolheu, sendo incapaz de propor uma nova solução. 

É muito claro que Dunga não é, nem de longe, o melhor técnico brasileiro. Mesmo na boa fase da primeira passagem pela geração, ele teve Jorginho como auxiliar, que já mostrou ser melhor técnico que o ex-companheiro. A Seleção agora está entre a cruz e a espada. Se interromper o trabalho do gaúcho, pode não dar tempo do próximo técnico desenvolver seu trabalho a tempo de conseguir a classificação para a Copa de 2018. Se não interromper o trabalho, arriscará continuar com um Brasil antiquado e fraco como equipe, mesmo com bons jogadores. O pior de tudo é que sabe-se que essa decisão cabe ao comando da CBF, pessoas que são ainda mais incapazes nos seus trabalhos do que Dunga. 


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