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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Lazio 0 x 2 Juventus - Calcio

Na partida seguinte a eliminação na Liga dos Campeões face ao Bayern Munique, a equipe da Juventus de Turim confirma ainda mais sua superioridade na Itália, vencendo a Lazio em Roma. O placar foi todo construído no primeiro tempo, com o chileno Arturo Vidal marcando os dois gols da vitória alvinegra. O esquema com três zagueiros do time de Turim é um quebra-cabeça tático, e dá forças de sua eficácia contra um 4-1-4-1.


 Aquecimento

Ambas as equipes foram eliminadas de competições europeias durante a semana. A Juventus se despediu da Liga dos Campeões após perder duas partidas para o Bayern de Munique, pelo mesmo placar de 2 a 0. Muitos até pensaram que este seria o confronto mais equilibrado das quartas de final, mas acabou sendo o que terminou com a maior diferença de gols, um baque para o time que lidera com folgas o Campeonato Italiano. Já a Lazio, após um ótimo inicio de temporada, foi eliminada para o time do Fenerbahçe, pela Liga Europa, e agora busca a vaga na Liga Europa do próxima ano, ponto a ponto com a sua grande rival, a Roma, e a Internazionale de Milão. Após ter figurado em segundo lugar no inicio do campeonato, fica o gostinho de fim de temporada decepcionante.

Antonio Conte não pôde contar com o seu melhor zagueiro, Giorgio Chiellini, e escalou Peluso pela zaga-esquerda, com Lichtsteiner na ala direita. Giovinco também estava fora, então Pogba continuou ao lado de Pirlo e Vidal no meio-campo. A dupla de ataque escolhida foi Marchisio e Vucinic, com o artilheiro do italiano Fabio Quagliarella no banco.

Na Lazio, o técnico Vladimir Petkovic estava sem Konko e André Dias, machucados e Radu, Biava e Lulic,  suspensos, todos da linha defensiva, que acabou sendo escalada com Gonzales pela direita, a dupla Cana e Ciani de zagueiros e Stankevicus na lateral esquerda. No meio, o brasileiro ficou no banco e o nigeriano Obazi começou ao lado de Hernanes e Ledesma. De resto, o time foi como esperado.

Lazio começa forte, mas brilha a estrela de Vidal, que se valoriza na Europa.

Nos primeiros minutos, o time da Lazio, jogando em casa e pressionada pela torcida, tentou tomar a iniciativa do jogo, apostando em jogadas pelas pontas com Candreva, pela esquerda, e Mauri, pela direita. O time da Juventus ainda se estabelecia com sua defesa reformada. Após um tempo entretanto, a Juventus conseguiu equilibrar as ações e se tornou perigosa. O time da capital não parecia ter um plano especifico para marcar o homem chave da Juventus, Andrea Pirlo, e com Marchisio mais meia que atacante, sobrava espaço para o cérebro italiano fazer seus lançamentos em diagonal.


Vidal levou a melhor no combate direto com Hernanes, chegando ao ataque como elemento surpresa. Do outro lado, Asamoah tinha muito espaço e recebia sempre bolas em diagonal de Pirlo, que ficou sem marcação.


O primeiro gol saiu ainda quando a Lazio parecia um pouco melhor na partida. Vucinic, um dos atacantes mais inteligentes do mundo hoje, que participou da criação do revolucionário 4-6-0, sofreu um pênalti cometido por Cana, e que foi convertido por Vidal. Ambos os jogadores possuem caracteristicas que são chave para o sucesso dessa formação pouco ortodoxa nos dias atuais.Vucinic é um atacante inteligente, capaz de jogar bem em várias funções no ataque. Ele pode reter a bola, sair da área e abrir espaços para seus companheiros e marcar o lateral, se necessário. Além, é claro, de ser bom finalizador. O 3-5-2 da Juventus requer atacantes móveis capazes de recuar e marcar os laterais, e ao mesmo tempo exercer pressão na linha de defesa adversária. Quando utilizando o pareamento certo, dois jogadores são capazes de prender a atenção de todos os quatro jogadores da linha defensiva adversária.

A posição de Vidal é tão importante, ou mais que a de Vucinic. Enquanto o montenegrino tem a sombra de Fabio Quagliarella e Matri, o chileno parece não ter substitutos à altura. Ele é responsável por correr e marcar por Pirlo, e também chegar com muita potência ao ataque. Ele tem a energia e a técnica necessária para manter um esquema que dá toda a liberdade para Andrea, e requer que os outros corram por ele, ao mesmo tempo em que se coloca inteligentemente em posições para receber a bola. Ele joga no meio-campo pelo lado direito, podendo se deslocar para a ala, ponta, lateral, ou chegar ao ataque como elemento surpresa. Vidal foi peça-chave também no esquema de Marcelo Bielsa no bom time chileno que disputou a Copa do Mundo 2010. Não á toa, o esquema da Juventus tem muitas influências do treinador argentino.

O segundo gol partiu de nova interação entre os dois jogadores. Na verdade, poucos minutos antes, Vucinic já havia servido Vidal, que desperdiçou a chance. Na jogada do gol, fica evidente o bom movimento do atacante, que sai da área e tenta tocar no ponto futuro para Marchisio que corre por trás da linha de defesa. A bola é desviada, e sobra para Vidal, que aparecia novamente como atacante, aproveitando os espaços criados pelo primeiro. O chileno justifica assim, os rumores de interesse de Sir Alex Ferguson no seu futebol.

Sem zagueiros "sobrando"

É lugar comum dizer que, quando um 3-5-2 enfrenta um time que joga com apenas um jogador de área, eles possuem a desvantagem de ter um homem sem função em campo. A Juventus sabe bem utilizar seus três zagueiros e dois alas para criar superioridade numérica tanto na parte ofensiva quanto na parte defensiva, mantendo sua solidez. Sem a bola, o time recua em um 5-3-2/5-4-1, com o recuo de um atacante. Vidal pode abrir pela direita e marcar o lateral confortavelmente, enquanto um dos atacantes faz o mesmo trabalho pelo outro lado.

Com a bola, o time joga em um 3-1-4-2, pressionando fortemente a saída de bola do adversário, encurralando no seu próprio campo, e deixando Andrea Pirlo livre para ditar o ritmo do jogo. Se o adversário possui apenas um atacante, um dos zagueiros sobe e vira um lateral, com o ala virando um ponta. Chiellini, o titular, é sempre um hibrido entre zagueiro e lateral esquerdo, enquanto Barzagli possui boa saída de bola também. Foi evidente essa característica hoje, com Peluso jogando na zaga pela esquerda, já que ele foi ala direito no jogo contra o Bayern de Munique.

O maior perigo estaria quando o time é pego no contra-ataque. Jogando contra um time com três atacantes, é possível imagina que se os alas estão em posições avançadas, existe muito espaço para ser aproveitado. É por isso que é importante que o zagueiro possa sair como lateral e pressionar o ponta que tenta puxar o contra-ataque, enquanto isso, o ala do mesmo lado e o meio campo chegam para pressionar e atrasar a jogada, enquanto o ala do lado oposto volta e recompõe a defesa, formando uma linha de quatro. É preciso muito treino e coordenação entre todas as partes do time, mas funciona muito bem para os italianos.

Lazio muda para igualar o sistema, mas não consegue a virada.

No intervalo, Petkovic tirou Hernanes e Mauri para a entrada de Ederson e Kozak. O ex-são paulino sofreu no primeiro tempo, sendo marcado por Vidal, e não conseguindo acompanhá-lo. Apesar do brasileiro ter mais técnica, hoje ele foi derrotado pela vigorosidade do chileno. A Lazio se reestruturou em um 3-5-2, com Ederson avançando como meia e Kozak como um segundo atacante. Stankevicus se tornou zagueiro pela direita, com Gonzales virando ala esquerdo. Candreva virou ala direito, mas se manteve mais no ataque. Ledesma e Obazi formaram uma dupla de volantes a frente do trio de zaga.

Lazio no 3-5-2, querendo igualar os combates. Funcionou nas alas, mas sobrou espaço para Pogba, e Ciani ficou realmente sobrando em campo.
O objetivo era igualar a disputa, já que o sistema da Juventus engolia o da Lazio no primeiro tempo. Entretanto, a disputa continuou desigual, devido principalmente a movimentação de Marchisio, que jogava como um camisa 10 clássico, e acabava ocupando um volante, e não um zagueiro. Com isso, o time de azul sim, tinha um zagueiro sobrando. Para compensar Ciani tentava abrir pela esquerda com a bola, mas pecava no passe. Ederson virou o armador dos donos da casa, fazendo um trabalho defensivo em cima de Pirlo quando o time não tinha a bola, e passando por ele quando o time a tinha. Com isso, ele criou algumas boas chances, inclusive um ótimo cruzamento que Klose desperdiçou. Essa função tática já tinha sido bem executada por Oscar em confronto válido pela Liga dos Campeões.

Com o avanço dos laterais da Lazio, os alas da Juventus jogaram mais contidos no segundo tempo, e os três zagueiros se concentraram sobre os dois atacantes, que se movimentavam mais, inclusive Miroslav Klose, considerado por muitos apenas um ótimo finalizador. Quem conseguiu desfrutar de mais espaço foi Paul Pogba. Com Ledesma e Obazi ocupados com Marchisio e Vidal, e Ederson cuidando de Pirlo, o jovem francês achou espaço entre Stankevicus e Mandreva, que jogava bem avançado. Por ali, ele distribuiu bons passes e orquestrou alguns bons lances, aparecendo com perigo, ás vezes como um ponta-direita.

O jogo prosseguiu morno. A Juventus, com a vantagem no placar, soube usar da sua vantagem numérica no meio de campo para diminuir o ritmo e fazer o tempo passar. Nenhuma das alterações subsequentes teve grande impacto no resto do jogo, que terminou 2 a 0 para o time visitante.

Juventus: Incrivelmente superiora na Itália, mas decepcionante na Europa.

Talvez seja uma fatalidade, mas a forma como o time de Turim foi eliminado na Liga dos Campeões pelo Bayern - que é hoje o novo baluarte do modelo de clube bem gerido - deve ser interpretado com um sinal do declínio da qualidade do futebol italiano. A Juventus permanece a uma distância dos outros times do seu país, e a Lazio não é um adversário fraco, muito pelo contrário, e mesmo assim é facilmente batido pelos atuais e virtuais campeões da Itália. Mas toda essa distância ainda não significa ser competitivo a nível europeu, algo que a Juventus deve buscar nas próximas temporadas, mas que, em última instância, evidencia que o Calcio já não é mais o que foi um dia.

3 comentários:

  1. Lucas Nogueira e a análise mais acurada no planeta futebol.

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  2. Otima analise do que foi mais uma grande partida da Juventus o unico erro foi citar o Giovinco em duas partes do texto como se ele tivesse jogado algo que nao aconteceu de resto parabens ^^

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  3. Obrigado por apontar o erro, cara. Na verdade foi só em um ponto, no outro eu digo que ele é desfalque. Valeu!

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