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sábado, 9 de julho de 2016

França 2 x 0 Alemanha - Semifinal - Euro 2016

Escalações

Os dois técnicos tiveram de tomar importantes decisões nas suas escalações. No jogo contra a Islândia, o zagueiro Rami e o volante Kanté estavam suspensos e foram substituídos por Umtiti (recém-contratado pelo Barcelona) e Sissoko. Com isso, a França mudou seu formato para um 4-4-2, com Sissoko pela direita, e Griezmann como segundo atacante. Contra a Alemanha, Deschamps podia contar com Kante e Rami, mas preferiu repetir a formação do jogo contra a Islândia.

Já Joachim Löw tinha sérios desfalques: Khedira e Mario Gomez, machucados, e Matts Hummels, suspenso, um problema em cada setor da equipe. Na defesa, colocou Howedes ao lado de Boateng, com Kimmich na lateral-direita. No meio-campo, optou por Can no lugar de Khedira, e deu a Schweinsteiger sua primeira oportunidade como titular. Na frente, manteve o trio Muller, Draxler e Ozil, com o primeiro se tornando o centroavante do time. Com isso, Löw também fez a opção por não manter o 3-4-3 do jogo contra a Itália, escalando o time no 4-3-3, com Schweinsteiger como o primeiro volante.

 


Dominío Alemão

Nos cinco minutos iniciais, a França pressionou a saída de bola, tentando encontrar um gol antes que a Alemanha conseguisse impor seu tradicional ritmo de posse de bola. Nesses instantes iniciais, a França teve relativo sucesso, especialmente devido a algumas falhas de Can, que ganhava seus primeiro minutos de jogo na Euro. Durante esse período, Griezmann tabelou bem pelo meio com Matuidi, chutando de direita para fácil defesa de Neuer. Era um sinal do tipo de perigo que a França ofereceria ao longo do jogo.

Passado a pressão inicial, a Alemanha tomou o controle do jogo, provavelmente produzindo o melhor futebol da Eurocopa, principalmente considerando o nível do adversário. Dos 10 minutos ao fim do primeiro tempo, a França apenas assistiu a Alemanha jogar bola. Schweinsteiger recuava como um zagueiro para iniciar as ações e fugir da possível pressão. Os zagueiros avançam até o meio-campo, e os laterais se tornavam pontas, arrastando com eles os meias abertos da França, Sissoko e Payet.

Em geral, a Alemanha tocava a bola pela esquerda com Kroos, atraindo o jogo para um lado, antes de tentar encontrar Kimmich, Can e Ozil do lado oposto, que apareciam com perigo. Can, em especial, depois dos erros nos momentos iniciais, era quem aparecia com mais perigo, se projetando como elemento surpresa no ataque.

90% das vezes, a supremacia alemã nesses momentos teria se convertido em gol. Entretanto, a bola não entrou. Thomas Muller, em especial, terminou as duas Euros que disputou sem gols, o que é bizarro para quem é notavelmente prolífico em Copas do Mundo. Nesse jogo, apesar do incrivel volume de jogo alemão, ninguém conseguiu bater Lloris. E para azar alemão, no último lance do primeiro tempo, Schweinsteiger colocou a mão na bola dentro da área e o juiz deu pênalti, que foi convertido por Griezmann. Completamente contra o ritmo do jogo, a Alemanha ficava atrás no placar.
Passes no ataque da Alemanha vs França durante o primeiro tempo: Domínio absoluto da Alemanha.

Defesa Francesa

Existem casos em que o treinador arma um time na defesa, com várias estratégias montadas para atrair o adversário para zonas não perigosas, forçar o erro adversário, e matar o jogo em contra-ataques (vide o Atlético de Madrid de Simeone). Não era o caso da França no primeiro tempo. A França foi dominada, e teve de contar com sorte e a boa atuação dos seus zagueiros. De fato, Umtiti e Koscielny tiveram uma noite inspirada, e tiveram possivelmente a melhor atuação das suas carreiras. Umtiti, em especial, mostrou porquê o Barcelona o contratou nessa janela de transferências. 

Koscielny e Umtiti fizeram o que era possível na defesa. Gol alemão não saiu por sorte e pelos méritos deles.


Muito se falou de que Deschamps deveria ter retomado o 4-3-3 dos primeiros jogos, para povoar mais o meio campo, e atrapalhar o domínio alemão. O técnico francês preferiu manter o 4-4-2. Essa escolheu serviu para posicionar jogadores mais diligentes nas pontas, que pudesse marcar os avanços dos laterais alemãos. Sissoko e Payet tiveram de fazer esse trabalho sujo. Payet, em especial, foi um dos destaques ofensivos da França no início do torneio, mas teve de ser sacrificado defensivamente nesse jogo. Pogba e Matuidi fizeram o papel de dupla de volantes, ainda que ambos estejam acostumados com um pouco mais de liberdade. Isso funcionou até certo ponto porque a Alemanha não joga com um camisa 10 centralizado, sendo que Ozil joga pela direita. Com isso, Pogba e Matuidi puderam focar em Can e Kroos. 


Bolas recuperadas por Sissoko mostram como ele se alinhava com a linha de defesa para ajudar a marcar as subidas de Hector.

Ainda que se discuta se a estratégia adotada por Deschamps realmente deu certo ou foi apenas uma baita dose de sorte, no mínimo serviu para posicionar Griezmann pelo meio, na mesma posição em que joga pelo Atlético de Madrid. Griezmann acabou se tornando a estrela do jogo.

Griezmann

O rápido e habilidoso atacante francês costuma jogar no 4-4-2 montado por Diego Simeone no Atlético de Madrid. Nessa formação, os dois atacantes recuam bastante, geralmente marcando os volantes adversários, deixando o time bem compacto. No time de Madrid, Griezmann se especializou em jogar dessa forma, disparando a partir de posições centrais, usando sua velocidade e o drible para atacar times que jogam de forma avançada.

Aparentemente, dentre todos os bons jogadores da França, Deschamps decidiu que Griezmann merecia ter o time montado ao seu redor. Possivelmente inspirado pelo seu histórico enfrentando e derrotando equipes ultra-ofensivas contra a Alemanha. Essa liberdade acabou se pagando, já que o jovem atacante foi, ao longo do jogo todo, a maior, e talvez única arma ofensiva da França. Assim, os donos da casa concentraram todos os seus contra-ataques pela zona central do campo, sempre com a participação de Griezmann. Enquanto os meias-abertos tinham de recuar para marcar os laterais, ele geralmente pressionava Kroos ou Howedes para tentar tabelar com Giroud pelo meio e usar sua aceleração.

Se Deschamps tivesse preferido o 4-3-3, ele teria mais números no meio-campo, mas possivelmente Griezmann teria sido escalado como ponta, e passaria o jogo inteiro correndo atrás do lateral. Dessa forma, ele foi posicionado exatamente da forma que gosta de jogar, e na qual ajudou a derrotar o Bayern de Munique e Barcelona na última temporada.

O francês terminou o jogo com 10 passes certos de 12 tentados no ataque, 5 dribles certos de 5 tentados, 7 chutes sendo que foram 4 no alvo, e 2 gols.


Griezmann durante o jogo: Principal rota ofensiva francesa, recuparando a bola próximo a linha do meio-campo e partindo em disparada com velocidade e drible.

Alemanha se lança ao ataque, mas França amplia.

Voltando do intervalo com a desvantagem, a Alemanha manteve o plano de jogo, e continuou a dominar a França. Entretanto, a sorte realmente não estava com os alemãos. Boateng se machucou, e foi substituído por Mustafi. De repente, a Alemanha jogava com a zaga reserva, e com apenas um jogador da defesa que foi campeã mundial, Howedes, e mesmo ele jogando em um lugar diferente.
Da forma como a Alemanha, é muito importante que os zagueiros tenham capacidade de tocar bem a bola. Boateng e Hummels são ótimo nisso. Mustafi e Howedes, entretanto, estão uns níveis abaixo nesse quesito. Isso deu confiança para a França testar mais a saída de bola alemã.

Assim, ao mesmo tempo em que a Alemã pressionava em busca do gol de empate - e quase conseguia - a França também arriscava mais. Löw tirou Can e pôs Gotze, que começou o torneio como titular, mas perdera a posição para Gomez. Assim, o time foi para um 4-2-3-1. Deschamps respondeu tirando Payet, exausto e sacrificado na marcação a Kimmich, e pôs Kante. Imediatamente, Pogba e Matuidi se sentiram protegidos o suficiente para pressionarem a saída alemã. Juntos, eles roubaram a bola de Kimmich, Pogba cruzou e Neuer desviou, Griezmann pegou a sobra e fez o segundo. Era o fim do jogo para a Alemanha, que ainda tentou, mas não conseguiu seu gol, que seria merecido.

Alemanha no modo ultra-ofensivo: Sané na ponta, com Gotze, Muller e Draxler atacantes e Hector na outra ponta. Ozil como volante-armador. A entrada de Kanté na França não mexeu na estrutura, com Matuidi indo para a esquerda, mas deu mais liberdade para Pogba.

Conclusão

A sorte é o encontro do preparo com a oportunidade. No primeiro tempo, a Alemanha deveria ter vencido fácil a França, pois jogou e criou pra isso, com os franceses apenas assistindo uma aula de futebol. Por um milagre dos deuses do futebol, a bola não entrou. Os franceses tinham uma rota de ataque, e por ali levaram perigo aos alemães, e conseguiram um gol em um erro individual, como já tinha acontecido no jogo Alemanha e Itália. Se a oportunidade apareceu, a França estava preparada para aproveitá-la. A escolha de Deschamps foi por posicionar Griezmann na posição do campo em que ele se sente mais confortável, e por ali ele conseguiu causar estragos na defesa alemã. Era a sorte francesa.

A Alemanha deveria ter ganhado o jogo. O futebol que ela pratica é envolvente e ofensivo desde o início do jogo. Com os zagueiros no meio-campo e os laterais como alas, eles conseguiram encurralar até os donos da casa. Entretanto, muitas vezes esse tipo de jogo produz muitas chances que não são aproveitadas. Bayern de Munique e Barcelona foram eliminado das Liga dos Campeões em situações similares pelo Atlético de Madrid. O jogo alemão é mais bonito de se ver, porque gosta de ter a bola. E esse estilo vai manter a Alemanha como uma das maiores potências do futebol mundial por muito tempo, se conseguir mantê-lo. Mas em um jogo tudo pode acontecer, e nesse caso, foram derrotados por uma França que jogou menos, mas aproveitou as oportunidades que teve, liderados por um Griezmann em grande fase.

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