Escalações
Atlético no 4-4-2 bem estreito. Real em um 4-3-2-1. |
Zidane, técnico do time principal do Real há menos de seis meses, escalou os seus onze preferido. O mesmo que venceu o Barcelona no Camp Nou pela Liga Espanhola. Em termos de pessoal, a grande mudança foi a efetivação de Casemiro no time titular, dando maior segurança ao meio-campo madridista, aproximando Modric e Kroos da área adversária. Outra mudança importante em relação ao técnico anterior, Rafa Benitez, foi a troca de Danilo por Carvajal na lateral-direita.
Simeone também não tinha lesionados, e pôde escolher o seus melhores. A única dúvida real do argentino era quanto ao parceiro de zaga de Godín. Acabou optando pelo montenegrino Stefan Savic no lugar de José Giménez. Ambos tinham participado de sete jogos da Liga dos Campeões até então, mas Giménez teve mais participações na Liga Espanhola. De resto, Simeone mandou o 4-4-2 que é seu padrão.
Atlético começa mal
O Atlético chegou na final após eliminar dois gigantes: O Barcelona atual campeão e o Bayern de Munique. Contra esse time, Simeone parece ter encontrado o melhor antídoto. Seu Atlético joga um jogo de marcação por zona que muitas vezes consegue pressionar o jogador com a bola com quatro jogadores de uma vez. Por meio de uma mistura cuidadosa de disposição e boa colocação, o Atlético deixa que os adversários tenham a bola na maior parte do jogo, mas nega-lhes espaço na parte do campo que realmente importa. Fundamentalmente, Barcelona e Bayern acreditam que é melhor se defender tendo a posse de bola longe do seu gol. Já o Atlético acredita que é melhor atacar quando o adversário está avançado e há espaços nas costas dos zagueiros. Por isso, o Atlético precisa de menos chance para fazer seus gols, já que só ataca com espaço.
Para o Atlético, fazer o primeiro gol é crucial. Conseguiu fazer isso nos jogos anteriores e não foi por acaso. Tradicionalmente, ele começa o jogo com muita energia, pressionando forte na frente. Aqui, repetiu a estratégia, mas não pareceu ter a mesma intensidade. Buscou jogo no inicio pela direita com as subidas de Juanfran, aproveitando o fato de que Cristiano Ronaldo não costuma participar da marcação nesse momento da carreira - de fato, ele jogou mais como segundo atacante do que como ponta - e que ele não estava nem perto de 100% fisicamente.
A peça-chave nesse momento foi Bale. Começando pela esquerda, ele acabava vindo para o meio para pressionar os meio-campistas do Atlético, confundindo-os. Esse movimento também a ajudava a deixar o jogo muito compacto lateralmente, com os laterais do Atletico fechando muito por dentro na fase defensiva. Os meias Saul e Koke também fechavam bastante para pegar Kroos e Modric, deixando espaço para subidas dos laterais do Real. Bale acabou conseguindo a falta cobrada por Kroos que ele mesmo desviou para Sergio Ramos fazer o gol.
Real pragmático e Atlético um peixe fora d'água.
A partir daí, toda a estratégia do Atlético se desfez. Precisando buscar o gol, ele teve de levar o jogo ao Real. Diferentemente de Barcelona e Bayern de Munique, o time de Zidane não teve vergonha em se recolher e confiar na solidez defensiva. Bale e Benzema corriam por Ronaldo, mas não voltavam tanto, conservando energia e tentando sempre estar dispostos para um contra-ataque que seria o fim do jogo. Por consequência, o trio de volantes-meias do Real era forçado a se movimentar de um lado para o outro para fechar as laterais do campo.
Entre o gol e o fim do primeiro tempo, Atlético conseguiu trabalhar a bola no ataque, principalmente pela esquerda. Entretanto, muitas dessas jogadas acabaram em cruzamentos errados. |
Simeone muda e o Atlético melhora.
No intervalo, Simeone repetiu a mudança que fez contra o Bayern, tirando Augusto Fernandez e colocando Carrasco. Augusto Fernandez é um monstro na marcação e nas roubadas de bola, tendo feito grande jogos na Liga dos Campeões. Entretanto, precisando propor o jogo, seu papel já não era necessário. A introdução de Carrasco colocou o Atletico em um 4-1-2-3, com Carrasco caindo pela esquerda e Griezmann pela direita. O efeito surgiu mais rápido que o esperado, com Torres sofrendo pênalti após passe de Griezmann. O francês cobrou e chutou no travessão, jogando um banho de água fria nas esperanças do Atlético.
Em seguida, Daniel Carvajal, machucado, deu lugar a Danilo. O brasileiro mostrou porque foi Zidane o deixou no banco desde que assumiu a equipe. A combinação Felipe Luís e Carrasco causou-lhe muitos problemas, imediatamente expondo o lateral brasileiro, que, além de sua fraqueza defensiva, recebia pouco suporte dos jogadores mais avançados.
Atlético no 4-3-3 com Carrasco na ponta-esquerda. Isco e Vasquez oxigenaram o Real. |
Real cansa e Atlético não aproveita.
Na prorrogação, o Real cansou, simbolizado principalmente por Cristiano Ronaldo usando a trave adversária para fazer um alongamento contra a câimbra. Reconhecendo seus problemas, manteve sua estratégia de defesa + contra-ataque. Ainda assim, conseguiu levar perigo a meta de Oblak, o que mostra que foi uma estratégia bem-sucedida. Ronaldo, mesmo muito abaixo da sua capacidade física, terminou o jogo como o homem que mais chutou a gol.
Quem realmente se destacou nesse momento foi Casemiro. O jovem brasileiro brilhou nos momentos finais com ótima participação defensiva, cobrindo seus companheiros cansados, chegando a frente e inicando contra-ataques. Com essa grande atuação, ajudou a minar os esforços do Atlético de aproveitar o cansaço do Real.
Conclusão
Um jogo atípico porque forçou o time menos técnico a propor, e deixou o time mais técnico especulando. Conseguir o primeiro gol foi crucial para Zidane, que entendeu que é muito díficil pressionar o Atlético no seu campo, como Bayern e Barcelona fizeram e foram castigados. Recolheu as linhas e impediu o Atlético de mostrar os seus pontos fortes. Ainda assim, é possível argumentar que se o Griezmann tivesse feito o pênalti...
Se o técnico argentino desenvolveu o melhor antídoto para o jogo moderno de ultra posse de bola, ele não tinha respostas para um enfrentamento mais tradicional. A utilização de um cabeça-de-área para dar liberdade aos criadores é algo que Zidane teve com Makelele no Real e na França, mas que há muito não se usava mais.
Simeone, Guardiola e Luis Enrique experimentaram mais e deixaram um maior legado tático nessa temporada. Mas, no fim, quem acabou levando o troféu para casa foi o Real Madrid, pela décima-primeira vez. Zidane optou por uma abordagem simples e clássica, poupando seus talentos na frente. Simeone sofreu do seu próprio veneno. Ele é o destruidor de filosofias, mas não venceu o pragmatismo.
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