Ambos os times mantiveram a mesma estrutura das semifinais. Portugal contou com a volta de Pepe e William Guerreiro, com Bruno Alves e Danilo voltando para o banco. A França repetiu os mesmos jogadores da vitória contra a França.
França começa bem.
O jogo começou com a França melhor no jogo. O quarteto de meio campo português é extremamente funcional, focado principalmente em fechar espaços e pressionar os adversários do que em criar propriamente. Essa opção pela funcionalidade em detrimento da qualidade foi uma das características marcantes do time português nessa Eurocopa.
Apesar desse esquema ter sido relativamente bem-sucedido em atrapalhar times de melhor qualidade no meio-campo (Croácia, Polônia e País de Gales), a estratégia não estava funcionando para Portugal dessa vez. A França claramente forçava o jogo pela sua esquerda. Payet se movimentava para o meio, levando Cedric com ele, abrindo espaço para avanços de Matuidi e Evra. Renato Sanches não conseguia marcar os dois, e a França levou perigo por ali.
Outro movimento que levava perigo para Portugal era o movimento de Sissoko, que tomava posições bem centrais, longe da marcação de Guerreiro, sobrecarregando o meio-campo português, e fazia corridas verticais com a bola, driblando em velocidade. De fato, durante o jogo, todas as chances criadas pela França partiram ou da ponta-esquerda, ou de posições centrais, nenhuma chance foi criada pelo lado direito.
Dribles de Sissoko: Apesar de ser nominalmente meia-direita, ele apareceu muito pelo centro como elemento surpresa, e levou perigo com suas corridas verticais. |
Saída de Ronaldo ajuda Portugal
Aos 25 minutos do primeiro tempo, Cristiano Ronaldo teve de ser substituído devido a uma lesão no joelho. Um momento que mudou totalmente o panorama do jogo. O time de Portugal era construído para deixar seu craque a vontade para desequilibrar. Sem ele, Portugal se tornava quase inofensivo. Por outro lado, a sua saída deu a oportunidade para Fernando Santos equilibrar melhor seu time, fechando o buraco pelo lado direito da defesa. Com isso, o ímpeto inicial da França diminuiu, e mesmo sem o craque português, o jogo ficou mais equilibrado.
Quaresma pela direita ajudou a definir os embates individuais mais claramente, acabando com a vantagem francesa por aquelea lado. |
Atuação de Evra antes e depois da saída de Ronaldo, nas duas metades do primeito tempo: participou menos sem o português em campo. |
Portugal voltou para o segundo tempo ciente de suas dificuldades, com a única missão de manter sua estrutura defensiva para tentar frustrar a França diante de sua torcida. Provavelmente, os portugueses estariam felizes de arrastar o jogo para os pênaltis. Cabia a França, favoritaça naquele momento, buscar o gol. Mas os franceses continuaram com dificuldades. Primeiro, eles não estavam sendo proativos na recuperação de bola, permitindo que os zagueiros portugueses esfriassem o jogo. Segundo, Griezmann estava bem marcado por William Carvalho, que é um volante de marcação clássico, e o acompanhou por onde foi. Terceiro, Pogba tentava jogar como um armador recuado, mas ficava muito longe da área portuguesa, e acabou o jogo com muitos passes, mas poucos ambiciosos.
Pogba jogou longe do gol, controlando a bola, mas com pouca ambição |
Didier Deschamps trocou Payet e Giroud por Coman e Gignac. Com essas substituições, não alterou a disposição do time, que continuou torto, atacando apenas pela esquerda, mas os dois reservas melhoraram o ritmo da partida, com Coman criando quatro chances de gol, e Gignac acertando a trave.
Percebendo que a França não exercia a pressão que dela se esperava, Fernando Santos fez duas trocas para melhorar a qualidade ofensiva do time. Primeiro, tirou o combativo Adrien Silva e colocou João Moutinho, de ótimo passe. Em seguida, e mais crucialmente, tirou o cansado Renato Sanches, talentoso, mas sacrificado com suas responsabilidades defensivas, e colocou o jovem centroavante Éder, muito questionado.
Éder foi uma presença física importante na área, dando trabalho aos zagueiros frances, que até então não tinham tido que lidar com um centroavante típico. O atacante conseguiu segurar a bola melhor, e arranjou cinco faltas, que resultaram em três cartões amarelos para a França. Com ele, Portugal se alinhava em um 4-3-3 mais clássico, e tinha mais alternativas, o que deixou a França mais receosa.
No seu pouco tempo em campo, Éder sofreu cinco faltas, e conseguiu três cartões amarelos pra França, ajudando a desafogar a pressão. |
Foi também dele o gol da vitória, com um drible e chute de longe inesperados. Com quatro minutos do segundo tempo da prorrogação, era o gol que calava a França. Portugal foi todo defesa, com Cristiano Ronaldo virando um dublê de técnico na beira do gramado. a França não conseguiu o gol do empate, e perdeu o título em casa.
Conclusão
Nas semifinais, ambos os times conseguiram a vitória apesar de abdicarem de ter a bola na maior parte do jogo. E continuaram com essa estratégia nesse jogo. A França jogou com um esquema criado para permitir a Griezmann contra-atacar, mas o jovem atacante não teve esse espaço o jogo todo. Portugal começou o jogo como azarão, status que se intensificou com a saída de Ronaldo. A França, mesmo tendo mais chances, não soube controlar o jogo e encurralar o time português. Não souberam pressionar nem jogar através do bloqueio no meio-campo português. Todas as suas jogadas se concentraram pelo mesmo setor, primeiro com Payet e depois com Coman. Não soube encontrar alternativas.
Portugal perdeu a Eurocopa de 2004 em casa contra a Grécia, o adversário dos sonhos, sem tradição. Aquele time tinha Cristiano Ronaldo, Figo e Deco, três nomes de nível mundial. Dessa vez, com um técnico que trabalhou por anos na Grécia, Portugal chegou ao título sem jogar bonito, com um meio-campo funcional que trabalhou em todos os jogos para conter os passes adversários, em vez de criar jogadas. Tudo para que Cristiano Ronaldo pudesse decidir. E ele decidiu, pelo menos até a final. Na final, a sua ausência significou um time de Portugal ainda mais batalhador. Mesmo assim, eles seguraram a pressão da França, os donos da casa, para levantar a taça. Dessa vez, Portugal foi a Grécia.
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